Encontrei o texto que se segue no jornal O Globo do dia 30/09/07.
Achei fantástico e, sem dúvida nenhuma, ele traz mil e uma discussões...
Vale a pena perder um tempinho e ler!
***
Amo você quando não é você
Martha Medeiros
"Parece aquelas notícias de jornal popular, mas merece uma página inteira na imprensa nobre. Escute só: um casal em crise estava, cada um, em segredo, trocando e-mails com um pretendente virtual. Ela querendo ver o maridopelas costas e totalmente envolvida pelo cara com quem teclava todos os dias. E o marido querendo que a bruaca evaporasse para poder curtir a gata que conheceu em um chat. Você certamente já matou a charada: cada um marcou um encontro às ganhas com seu amor e, shazam!, descobriram que estavam teclando um com o outro sem saber.
Ou seja, marido e mulher não se amavam mais, porém se apaixonaram um pelo outro na internet, usando pseudônimos. Imagine a cena: você se arruma para um primeiro encontro com alta carga erótica e dá de cara com seu cônjuge. Eu iria rir da situação e tentaria reinvestir no casamento desgastado, dessa vez estabelecendo novos códigos, mas o casal em questão não teve senso de humor e pediu o divórcio, alegando que eles estavam sendo “traídos”. Moralismo nessa hora?
Não é preciso teses nem seminários: este fato, isoladamente, consegue explicar e exemplificar o ponto frágil dos casamentos de longa duração. Todo ser humano é vaidoso – uns mais, outros menos – e essa vaidade se estende ao campo da sedução. Por mais que a gente ame a pessoa com quem se casou, a passagem do tempo reduz o feedback sexual. As transas podem até continuar prazerosas e relativamente assíduas, mas já não temos certeza se seríamos capazes de chamar a atenção de alguém que nada soubesse sobre nós, e essa é uma necessidade que não esmorece nunca: seguimos interessantes? Seguimos atraentes? E a pergunta mais séria entre todas: depois de tanto tempo fundidos com um parceiro, sabemos ainda quem somos nós?
Sendo assim, ficamos suscetíveis a uma paquera. Pela internet, parece seguro, sem conseqüências, mas não impede que nos apaixonemos – nem tanto pelo outro, mas principalmente por nós mesmos! Recuperamos a adolescência perdida: nos tornamos novamente audazes, sedutores e jovens – paixão rejuvenesce mais que botox. É a chance para a gente se reinventar e ganhar uma sobrevida nesse mausoléu de sentimentos chamado “estabilidade afetiva”. Não, você não, que é de outra estirpe. Estou falando de gente comum.
Este casal pagou um mico, mas fez um alerta à humanidade: somos capazes de nos apaixonar por quem já fomos apaixonados, desde que essa pessoa se apresente a nós como uma novidade e nos dê também a chance de sermos quem a gente ainda não foi. Este marido, que em casa talvez fosse carrancudo e desleixado, revelou-se bem humorado e empreendedor para sua nova “namorada”. A esposa, que em casa talvez bocejasse pelos cantos, mostrou-se alegre e entusiasmada para o novo “namorado”. Estavam o tempo inteiro conversando com quem conheciam há anos, mas, da forma que se apresentaram, desconheciam-se.
Já escrevi uma vez sobre esse tema: a gente se apaixona para corrigir nosso passado. Agora fica claro que podemos corrigir nosso passado com os prórpios protagonistas do nosso passado, desde que eles nos enxerguem com olhos mais curiosos, com um coração mais disposto e que acenem com um novo futuro."
Martha Medeiros
"Parece aquelas notícias de jornal popular, mas merece uma página inteira na imprensa nobre. Escute só: um casal em crise estava, cada um, em segredo, trocando e-mails com um pretendente virtual. Ela querendo ver o maridopelas costas e totalmente envolvida pelo cara com quem teclava todos os dias. E o marido querendo que a bruaca evaporasse para poder curtir a gata que conheceu em um chat. Você certamente já matou a charada: cada um marcou um encontro às ganhas com seu amor e, shazam!, descobriram que estavam teclando um com o outro sem saber.
Ou seja, marido e mulher não se amavam mais, porém se apaixonaram um pelo outro na internet, usando pseudônimos. Imagine a cena: você se arruma para um primeiro encontro com alta carga erótica e dá de cara com seu cônjuge. Eu iria rir da situação e tentaria reinvestir no casamento desgastado, dessa vez estabelecendo novos códigos, mas o casal em questão não teve senso de humor e pediu o divórcio, alegando que eles estavam sendo “traídos”. Moralismo nessa hora?
Não é preciso teses nem seminários: este fato, isoladamente, consegue explicar e exemplificar o ponto frágil dos casamentos de longa duração. Todo ser humano é vaidoso – uns mais, outros menos – e essa vaidade se estende ao campo da sedução. Por mais que a gente ame a pessoa com quem se casou, a passagem do tempo reduz o feedback sexual. As transas podem até continuar prazerosas e relativamente assíduas, mas já não temos certeza se seríamos capazes de chamar a atenção de alguém que nada soubesse sobre nós, e essa é uma necessidade que não esmorece nunca: seguimos interessantes? Seguimos atraentes? E a pergunta mais séria entre todas: depois de tanto tempo fundidos com um parceiro, sabemos ainda quem somos nós?
Sendo assim, ficamos suscetíveis a uma paquera. Pela internet, parece seguro, sem conseqüências, mas não impede que nos apaixonemos – nem tanto pelo outro, mas principalmente por nós mesmos! Recuperamos a adolescência perdida: nos tornamos novamente audazes, sedutores e jovens – paixão rejuvenesce mais que botox. É a chance para a gente se reinventar e ganhar uma sobrevida nesse mausoléu de sentimentos chamado “estabilidade afetiva”. Não, você não, que é de outra estirpe. Estou falando de gente comum.
Este casal pagou um mico, mas fez um alerta à humanidade: somos capazes de nos apaixonar por quem já fomos apaixonados, desde que essa pessoa se apresente a nós como uma novidade e nos dê também a chance de sermos quem a gente ainda não foi. Este marido, que em casa talvez fosse carrancudo e desleixado, revelou-se bem humorado e empreendedor para sua nova “namorada”. A esposa, que em casa talvez bocejasse pelos cantos, mostrou-se alegre e entusiasmada para o novo “namorado”. Estavam o tempo inteiro conversando com quem conheciam há anos, mas, da forma que se apresentaram, desconheciam-se.
Já escrevi uma vez sobre esse tema: a gente se apaixona para corrigir nosso passado. Agora fica claro que podemos corrigir nosso passado com os prórpios protagonistas do nosso passado, desde que eles nos enxerguem com olhos mais curiosos, com um coração mais disposto e que acenem com um novo futuro."
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A primeira idéia que me veio à cabeça, logo que li a primeira vez, é o quanto somos múltiplos EUs em um só. Logo em seguida, como a força do hábito nos impede de explorar todas as nossas potencialidades! Mas quando falamos especificamente de relacionamentos duradouros, concordo com a autora que o tema é bem importante.
Acredito num ser humano que evolui durante toda a vida. Somos instáveis por essência e é impossível sermos os mesmos que éramos há um ano atrás... O que seria uma vida muito triste e congelada, diga-se de passagem. Mas o Deus, ou quem quer que seja, nos criou assim, infinitos de possibilidades!
Ora, budegas, alguém me explica então por que nos paralisamos de forma tão cruel e enfadonha no relacionamento que escolhemos para durar anos em nossas vidas? E o que é pior: não precisa chegar a uma traição, nem que seja de brincadeirinha na internet... Somos capazes de continuar evoluindo, nos tornando mais amadurecidos, atraentes, seguros, e tudo isso quando estamos longe da atual companhia. Entre os amigos mesmo (do sexo oposto), com colegas de trabalho, até com novos conhecidos!!! E o que sobra pro relacionamento é a parte chata, mesquinha, habitual, da qual nós mesmos já estamos de saco cheio...
Então, ouvimos do companheiro ou companheira que somos chatos, estressados, acomodados, ou isso fica nas entrelinhas. Mas do lado de fora, "quanta gente reparou em novidades minhas que o fulano não valoriza" ou "quantas mulheres perceberam como eu estou mais sedutor, e a fulana nem vê". Claro! A pobre coitada não vê porque seu querido não mostra nada disso pra ela! E o infeliz não dá valor porque ela nunca deixou ele perceber!
Quando descobrimos que podemos ter toda essa sedução e paquera com a pessoa que mais queríamos ter, o relacionamento se transforma! Nessas horas, muitas vezes, recuperamos a magia que fez o outro se apaixonar pela primeira vez, só que melhorada, mais criativa e mais atraente. Descobrimos que temos a liberdade de ser e fazer o que quisermos e a pessoa amada não vai deixar de amar. Ela se encantará mais e isso renova e reforça o amor! Muitas vezes queremos ser exatamente aquilo que o outro sente falta, e nem nos damos conta!
Se a carapuça serviu, eis aqui o meu desafio: SEJA VOCÊ MESMO, NO PRESENTE, E QUEBRE A FORÇA DOS HÁBITOS DO PASSADO! Vai se surpreender...

3 comentários:
Nossa, não que eu não entenda (aliás, acho que sei bem do que você está falando), mas isso de relacionamento está tão longe da minha realidade e da minha atual vidinha... *rs*
Acho que comigo é o contrário. Eu quero voltar à força dos meus hábitos no passado. Ô, eu era bem mais legal e felizinha. E não acredito que sejam todos assim, todos os casais. Conheci os pais de uma amiga que ainda eram apaixonados depois de anos de casados e sempre faziam altos programas a dois (e mandavam os filhos dormirem nas casas da avó ou dos amiguinhos, de vez em quando! *rs*)
Sei lá, depende de cada um, mas é fato que, se não for no relacionamento, a gente sempre se acomoda em algum canto da vida. Talvez a vida atual exija antenas tão 100% ligadas em tão 100% de tudo no mundo, em nós, em todos... que não sobra espaço pra tudo. E aí um ladinho da vida fica meio pra escanteio, o que tb depende de cada um (pode ser mais de um ladinho ou uma vida inteira pra escanteio...)
Mas, pra responder o "Ora, budegas, etc", acho que Marina Colassanti já respondeu no texto "Eu sei, mas não devia", que acho simplesmente fantástico. (E viva a intertextualidade! *rs*) Talvez eu poste no flog, é uma boa. O texto começa com "Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia."
Digo o mesmo. Não devia. E digo mais. Não deve. Todo mundo. Porque a carapuça sempre serve. Em todo mundo. (Ainda que não no sentido direto de quem a costurou...)
Affe... Falei demais! *rs*
Enfim... Beijão!!!
Falou certo quando disse que a pessoa SE MOSTRA mais sedutora e tal e coisa.
Pra mim somos mais chatos e rabugentos e só Deus sabe mais o que nos relacionamentos duradouros porque sentimos uma certa segurança em sermos como REALMENTE SOMOS.
De modo que a mentira está na sedução.
Não que se iludir, fingindo-se de lindo e maravilhoso não seja uma coisa boa de se fazer de vez em quando.
Mas mentira tem perna curta, ilusões não são muito diferentes.
É por essas e outras que geralmente machucamos as pessoas mais próximas antes daquela que não tem nada a ver com você.
Acho que é isso, apesar de mostrado dessa forma ser MUITO menos empolgante.
Talvez seja o meu mau humor.
É isso,
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